
Idade: 29
Cidade de origem: Salvador - BA
Cidade que mora atualmente: São Paulo, SP
Ano da migração: 2024
Ocupação Atual: Multiartista
Como era a vida onde você morava? Você morava na cidade ou no interior?
Salvador é como eu, às vezes. Uma cidade grande que não cresceu. Impedida. Morava na capital e sofria para conseguir tirar minha arte do papel. Era ruim.
O que fez você decidir sair da sua terra?
A sensação de não-pertencimento. Ver a minha cidade se tornar uma outra qualquer. Criminalidade, falta de estrutura urbana e uma prefeitura atrasadíssima; consequência de governos anteriores que dominam a capital. (O prefeito de Salvador é bolsonarista e ninguém sabe).
Foi uma decisão fácil ou difícil? Por quê?
Difícil. Mal lembro de decidir. Foi tudo por impulso e ainda pago o preço por isso. Fome, dívidas, companhias esquisitas e vizinhos que fumam crack. Ah! Não posso deixar de falar da saudade. De tudo. De todos. Saudade de mim.
Como você se locomoveu da sua cidade até aqui?
Ônibus.
Tinha alguém aqui te esperando ou você veio por conta própria?
Conta própria. Obriguei um tio em São Paulo a me abrigar, o que estilhaçou ainda mais a nossa relação.
O que você lembra do seu primeiro dia aqui?
Não lembro. Acabei de perceber isso. Foi tudo tão corrido. Primeiramente vim a São Paulo para receber um prêmio entregue por um concurso literário no interior. Neste exato momento, não consigo me lembrar do meu primeiro dia aqui. Foi tudo muito corrido.
O que você sentiu mais falta quando chegou?
Do calor. Do acarajé. Dos tambores do Olodum.
O que te ajudou a se adaptar à nova cidade e seguir a vida?
As pessoas. O ser humano, ainda que machucado, é valioso.
Você conseguiu trabalho logo que chegou? Em quê?
Lembro de entregar currículo na Pernambucanas calçando um chinelo. Queria mesmo era ter a prova de que conseguiria emprego rapidamente em qualquer lugar. (Continuei lá por três dias rs).
Teve chance de estudar aqui ou pretende estudar ainda?
Chega de estudo. Minha escola é a vida. (Sem dinheiro e tempo para cursos).
Como tem sido viver aqui?
Desafiador. Essa cidade é bipolar. Tô aprendendo a ser também. Uma ciclotimia de leve. Tem sido assim.
A vida que você leva hoje era o que você imaginava?
Sim e não. Não imaginei estar sobrecarregado de medo e tensão. Pensei ter solucionado o mistério do mundo quando deixei Salvador rsrs. É mole?
Você costuma visitar sua cidade? Com que frequência? Como você se sente quando volta para lá?
Essa pergunta dói. Voltei para lá no ano passado porque nada deu certo aqui. Odiei. Espero voltar com grana, espero poder amar a minha cidade de novo. Tento escrever sobre para me fazer feliz; fazer as pazes. Eu, a cidade. O nome do meu novo livro.
Você pensa em voltar a morar em sua cidade natal um dia?
Penso. Quero uma grande mansão à beira-mar. Mas quero a cidade melhor. Satisfeita. Não sei se falo de mim ou se dela.
Você se sente parte da cidade onde vive agora?
Sim e não. Estou vivendo em condições que considero desagradáveis no momento. Mas quando vou ao centro - e quando estou com as pessoas certas - me sinto vivo. Parte de mim.
Quando se apresenta, o que você diz primeiro: de onde você veio ou onde mora atualmente?
Oxe, falo logo que sou baiano. E jamais vou perder o sotaque. Digo que aqui sou mais baiano que na Bahia, já que todos me notam. Baianinha de côco: um amigo me apelidou.
O que você trouxe da sua terra que continua com você?
Eu todo. E os meus vinis de Daniela Mercury.
O que você acha que as pessoas deveriam saber sobre quem sai do Nordeste e vem morar aqui?
Que dói. É difícil demais. A maior dor para o imigrante não é a falta de dinheiro, mas a mistura de sentimentos que tomam conta da gente. E ninguém sabe. Ninguém.